Lenda do Sr. Santo Cristo que dominou o fogo

santo cristo

Era no princípio do século dezoito, mais precisamente no dia um de Fevereiro de mil setecentos e dezoito. Os habitantes da Praia do Almoxarife andavam ocupados nos seus trabalhos. As mulheres estavam no arranjo da casa e da comida e os homens andavam no campo, a trabalhar a terra da qual tiravam o seu sustento.

Alguém, por acaso, olhou para o lado do Pico, em frente, do outro lado do canal e viu uma coisa horrível e inesperada: o lume rolava sobre o mar, em bocas de fogo abertas, em direcção à Praia do Almoxarife. Tinha rebentado um vulcão no Pico, em Santa Luzia ou nas Bandeiras, e a lava fervente era tanta que se tinha espalhado pelo canal e ameaçava vir destruir as casas, as terras e outros haveres das pessoas daquela banda do Faial.

O povo da Praia do Almoxarife, muito crente em Santo Cristo, que sempre o tinha protegido nas suas aflições, foi com muita fé buscar o crucifixo e levou-o para a beira-mar, junto à praia. Os homens que seguravam o crucifixo, desenharam com o Senhor uma cruz na areia e seguraram-no na vertical, de frente para as ondas de lume que avançavam sobre a água, aproximando-se a toda a força.

Então o Cristo curvou-se como se estivesse a fazer uma vénia ou a mandar o lume afastar-se para trás. Perante os olhares pasmados das pessoas, o fogo obedece, começou a recuar e a sumir-se pelo mar abaixo.

A alegria foi geral porque estavam livres de perigo e a fé no seu Santo Cristo aumentou cada vez mais. A Câmara da Horta prometeu fazer a festa todos os anos, no dia um de Fevereiro, e não o esqueceu, tendo vindo durante muitos anos as altas personalidades, descalças, para prestar homenagem ao Santo Cristo da Praia.

De “Açores, Lendas e Outras Histórias”, recolha de textos de Ângela Furtado Brum