Lenda do Poço das Asas

poço das asas“Havia segundo parece nesta povoação do Chão Frio, uma formosa e morena rapariga à qual não faltavam requestadores, mas que infelizmente já tinha dado corpo e alma a um fidalgo da Vila que em determinadas noites, vinha ocultamente aguardá-la neste sítio.

Descobriram os malogrados amantes o mistério daquelas nocturnas entrevistas e uma noite acontecendo que a rapariga sozinha, esperando o seu apaixonado, eles a assassinaram barbaramente.

No dia seguinte de madrugada, quando a gente da povoação veio buscar água, encontraram o cadáver da camponesa e bem assim o Poço, contendo na sua superfície algumas penas brancas, como a geada, o que desde então muitas vezes acontece.

Dos assassinos, dois fugiram, enquanto que o terceiro, ralado de remorsos, dentro de pouco enlouqueceu e vinha quase diariamente sentar-se nestas pedras, ficando horas e horas seguidas à superfície desta água, no fundo da qual parecia buscar o que quer que fosse.

Àqueles que passavam, dizia que viesses ver as penas saídas das asas de um anjo que ali estavam à superfície da água, e acusando-se do seu crime, acrescentava que a camponesa quando fora morta trazia no seio uma criança e que o anjinho, ao despedir-se dolorosamente da vida, havia deixado cair algumas penas das asas na superfície da água.

Tornou-se então lendária a narrativa do louco e é por isso que ainda hoje chamamos a este sítio, o Poço das Asas.”

De “Lendas e ditos”, trabalho de recolha do grupo A (1995/1996) da EB 2,3 de Horta